10 de abril de 2010

A força da literatura indígena

     A literatura indígena possui suas especificidades. São relatos de histórias contadas pelos mais velhos de geração para geração. Os interlocutores são os próprios índios. A escrita é fundamentada pelo discurso oral.
     Um livro escrito por índio é muito mais que uma história, é a tradição de um povo sendo revivida em cada página.
     Segundo Eliane Potiguara, " O escritor indígena é o futuro antropólogo, aquele que vê, enxerga e registra. Povos indígenas devem caminhar com seus próprios pés".

ESCRITORES INDÍGENAS

   A literatura indígena  ainda encontra muitas barreiras, uma delas está relacionada à divulgação. Há falta de incentivo financeiro. Muitos escritores indígenas não conseguem verba para publicar seus livros, pois ainda existe muito preconceito por parte das editoras.
  Como verdadeiros guerreiros, tentam vencer esse desafio e conquistam espaços para a  divulgação de suas obras. 
  Obras que merecem ser lidas:



    Histórias contadas por Olívio Jekupé em sua viagem ao Paraná, onde decidiu retomar os estudos. Em meio a aventuras, ele nos apresenta Ângelo Kretã, cacique do povo Kaingáng, conhecido por sua coragem e determinação na defesa das terras do seu povo e da união dos povos indígenas. 

   Este livro conta a história de uma aldeia que é atacada por homens não-índios. Mostra o relacionamento do pajé com as demais pessoas da tribo e a importância de sua sabedoria. Escrita em guarani e em português esta é uma história para todos os povos conhecer.

   Esse livro discorre sobre a saga do movimento indígena brasileiro, sobre imigração indígena por violência à sua cultura e suas consequências e o papel da mulher indígena no contexto cultural e sua real contribuição na sociedade. Objetiva ainda o fortalecimento do self selvagem do homem/mulher na construção de gênero para uma melhor qualidade de vida. Com paixão descreve a força da alma humana como principal canal para o amor e para o divino.

  O livro Criaturas de Ñanderu é um emocionante conto indígena escrito por Graça Graúna no qual uma garota com nome de pássaro, ao tornar-se adulta, ganha asas e sai de sua tribo para conhecer a cidade grande.

14 de março de 2010

Literatura Indígena

Pouco se fala sobre literatura indígena no meio acadêmico, afinal se trata de um fenômeno considerado recente, porém, já é possível apontar vários escritores com projeção nacional e internacional. Alguns nomes se destacam como: Olívio Jekupé, Yaguarê Yamâ, Daniel Mundukuru.
Neste mês de março, em que muito se reflete sobre a condição da mulher, dedico atenção especial  à escritora indígena: Eliane Potiguara.

 


Eliane é escritora indígena, professora, mãe, avó, 54 anos, remanescente Potiguara. É Conselheira do Inbrapi, (Instituto Indígena de Propriedade Intelectual) e Coordenadora da Rede de Escritores Indígenas na Internet e o Grumin/Rede de Comunicação Indígena.
Eliane foi indicada para o Projeto internacional Mil Mulheres Para o Prêmio Nobel da Paz.É uma das 52 brasileiras indicadas.
 
Formada em Letras (Português-Literatura), licenciada em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, participou de vários seminários sobre Direitos Indígenas na Onu, organizações governamentais e Ongs nacionais e internacionais.
 
Eliane Potiguara foi nomeada uma das “Dez Mulheres do Ano de 1988”, pelo Conselho das Mulheres do Brasil, por ter criado a primeira organização de mulheres indígenas no país: Grumin (Grupo Mulher-Educação Indígena), e por ter trabalhado pela Educação e integração da mulher indígena no processo social, político e econômico no país e por ter trabalhado na elaboração da Constituição Brasileira. Com a bolsa que conquistou da ASHOKA em 1989 (Empreendedores Sociais) mais seu salário de professora e o apoio de Betinho/IBASE e os recursos do Programa de Combate ao Racismo, (o mesmo que apoiava Nelson Mandela ), ela pôde prosseguir sua luta, além de sustentar e cuidar de seus três filhos, hoje adultos.
 
         Em 1990, foi a primeira mulher indígena a conseguir uma PETIÇÃO no 47º. Congresso dos Índios Norte-Americanos, no Novo México, para ser apresentada às Nações Unidas. Neste Congresso, havia mais de 1500 índios.  Por isso, participou durante anos, da elaboração da ”Declaração Universal dos Direitos Indígenas”, na ONU, Genebra, por essa razão recebeu em 96 , o título “Cidadania Internacional”, concedido pela filosofia Iraniana “Baha´i”, que trabalha pela implantação da Paz Mundial.
 
         Defensora dos Direitos Humanos, além de vários Encontros, e criadora do primeiro Jornal Indígena e Boletins conscientizadores e cartilha de alfabetização indígena no método Paulo Freire com apoio da Unesco, organizou em Nova Iguaçu/RJ, em 91 outro Encontro inédito e histórico, onde participaram mais de 200 mulheres indígenas de várias regiões, tendo como convidados especiais a cantora Baby Consuelo e vários líderes indígenas internacionais. Organizou vários cursos referentes à Saúde e Diretos reprodutivos das mulheres indígenas e foi consultora de outros encontros sobre o tema.
 
         Em 92 foi Co-Fundadora/Pensadora do Comitê Inter-Tribal 500 Anos (kari-oka), por ocasião da Conferência Mundial da ONU sobre Meio-Ambiente, junto com Marcos Terena, Idjarruri Karajá e muitos outros líderes do país, além de ter participado de dezenas de Assembléias indígenas em todo o país.
 
         Discutiu a questão dos Direitos Indígenas em vários fóruns nacionais, e internacionais, governamentais e não governamentais, diversas diretrizes, estratégias de ordem político-econômica, inclusive no fórum sobre o Plano Piloto para a Amazônia, em Luxemburgo/1999.
 
         No final de 92, por seu espírito de luta, traduzido em seu livro “A Terra é a Mãe do Índio”, foi premiada pelo PEN CLUB da Inglaterra, no mesmo momento em que Caco Barcelos (“Rota 66”) e ela estavam sendo citados na lista dos “Marcados para Morrer”, anunciados no Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão, para todo o Brasil, por terem denunciado esquemas duvidosos e violação dos direitos humanos e indígenas.
 
         Em 95, na China, no Tribunal das Histórias não contadas e Direitos Humanos das Mulheres/Conferência da ONU, Eliane Potiguara narrou a história de sua família que emigrou das terras paraibanas nos anos 20 por ação violenta dos neo-colonizadores e as conseqüências físicas e morais desta violência à  dignidade histórica de seu bisavô, avós e descendentes. Contou também o terror físico, moral e psicológico pelo qual passou ao buscar a verdade, além de sofrer abuso sexual, violência psicológica e humilhação por ser levada pela polícia federal, por estar defendendo os povos indígenas, seus parentes, do racismo e exploração. Seu nome foi jogado na lama nos jornais do Estado da Paraíba. Tudo isso à frente de suas três crianças na época.
 
          Eliane no último governo foi Conselheira da Fundação Palmares/Minc, é FELLOW da organização internacional ASHOKA, dirigente do Grumin e membro do Women´s Writes World. Eliane participou de 56 fóruns internacionais e para mais de 100 nacionais culminando na Conferência Mundial contra o Racismo na África do Sul, em 2001 e outro fórum sobre Povos Indígenas em Paris, 2004.
Eliane é do Comitê Consultivo do Projeto Mulher_ 500 anos atrás dos panos que culminou no Dicionário Mulheres do Brasil.
É autora de seu mais recente livro ‘Metade cara, metade máscara, Global, pela GLOBAL EDITORA que  aborda a questão indígena no Brasil.
 
         Rio de Janeiro, 20 DE JULHO DE 2005

Fonte: http://elianepotiguara.org.br/aautora.html

13 de março de 2010

Escola Indígena Kigrãg no Rio Grande do Sul

Os vídeos a seguir mostram uma comparação entre a escola dos não-índios com uma escola indígena Kigrãg.

Educação indígena infantil – Aldeia Krukutu

Aldeia Krukutu – Parelheiros/São Paulo - Foto: Agnaldo Rocha
Para nós, que moramos numa cidade violenta e poluída, parece impossível perceber que existam lugares como a Aldeia Indígena Krukutu, em Parelheiros, zona sul de São Paulo. A área é cercada por mata e fica às margens da represa Billings. Verdadeiro presente para nossos olhos. Estive lá numa quarta-feira (10.03.10). O sol estava bem forte. O encontro de águas, com o verde, o céu azul e o cheiro de terra é o cenário ideal para refletirmos o quanto temos menosprezado a natureza e  nada feito por ela. O motivo de minha visita à aldeia foi para conhecer o trabalho realizado com as crianças da aldeia na escola. Fui recebida pelo Luiz Carlos Karaí Rodrigues, coordenador do CECI-Centro de Educação e Cultura Indígena Infantil. O CECI é uma escola municipal que educa crianças indígenas guaranis de 0 a 6 anos. As crianças possuem rotina como em qualquer escola. As aulas iniciam-se às 8h00 e terminam às 17h00. Durante o dia, as crianças recebem três refeições, sendo este o principal motivo de não haver mais mortes em crianças nessa faixa etária, pois antes disso morriam de 04 a 05 crianças por ano. As mães são convidadas a compartilhar das refeições junto com os filhos que frequentam o CECI. A escola possui 67 crianças matriculadas e conta com 8 monitores, que se revezam entre os períodos, sendo 4 para cada turno. Os monitores falam guarani, assim como todos os outros índios da aldeia. É falado somente o guarani com as crianças, sendo uma forma de preservação cultural. Em relação à escrita, aos quatro anos, as crianças aprendem algumas palavras, bem poucas, pois a transmissão da língua e todo conhecimento que ela traz é feito através da fala. Somente quando vão para o ensino fundamental em uma escola estadual, é que começam a aprender o português. O planejamento das aulas é feito a cada quinze dias e a organização do calendário procura atender os ciclos da natureza de acordo com a comunidade. Nos meses de novembro, dezembro e janeiro, por exemplo, é ensinado às crianças que não se deve pescar nem caçar, pois é a época em que os animais se reproduzem. Esta é uma maneira de evitar a extinção dos animais. Também aprendem a plantar em hortas e num viveiro de plantas que se localizam nas proximidades da escola. As atividades pedagógicas são bem diversificadas, como as trilhas realizadas com alunos e educadores. Durante o trajeto são ensinados às crianças os nomes das plantas, bichos e demais elementos que compõem a natureza. No calendário escolar, também são previstas contações de histórias, em que os mais velhos ensinam aos pequenos as lendas e tradições do povo guarani. Isso possibilita a transmissão da língua e valoriza a experiência de vida dos mais antigos. Além disso, as crianças realizam atividades com os mais velhos na casa de rezas, onde aprendem as rezas, músicas e danças. Nas férias de julho, as crianças têm o “Recreio nas férias” e saem para passear em pontos turísticos e culturais da cidade. As crianças são bem alegres, compartilham todo o material escolar, dificilmente choram e desde quando nascem aprendem a viver em comunidade e se ajudar umas às outras.