Pouco se fala sobre literatura indígena no meio acadêmico, afinal se trata de um fenômeno considerado recente, porém, já é possível apontar vários escritores com projeção nacional e internacional. Alguns nomes se destacam como: Olívio Jekupé, Yaguarê Yamâ, Daniel Mundukuru.
Neste mês de março, em que muito se reflete sobre a condição da mulher, dedico atenção especial à escritora indígena:
Eliane Potiguara.
Eliane
é escritora indígena, professora, mãe, avó, 54 anos,
remanescente Potiguara. É Conselheira do Inbrapi,
(Instituto Indígena de Propriedade Intelectual) e
Coordenadora da Rede de Escritores Indígenas na
Internet e o Grumin/Rede de Comunicação Indígena.
Eliane
foi indicada para o Projeto internacional Mil Mulheres
Para o Prêmio Nobel da Paz.É
uma das 52 brasileiras indicadas.
Formada
em Letras (Português-Literatura), licenciada em Educação
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, participou
de vários seminários sobre Direitos Indígenas na Onu,
organizações governamentais e Ongs nacionais e
internacionais.
Eliane
Potiguara foi nomeada uma das “Dez Mulheres do Ano de
1988”, pelo Conselho das Mulheres do Brasil, por ter
criado a primeira organização de mulheres indígenas
no país: Grumin (Grupo Mulher-Educação Indígena), e
por ter trabalhado pela Educação e integração da
mulher indígena no processo social, político e econômico
no país e por ter trabalhado na elaboração da
Constituição Brasileira. Com a bolsa que conquistou da
ASHOKA em 1989 (Empreendedores Sociais) mais seu salário
de professora e o apoio de Betinho/IBASE e os recursos
do Programa de Combate ao Racismo, (o mesmo que apoiava
Nelson Mandela ), ela pôde prosseguir sua luta, além
de sustentar e cuidar de seus três filhos, hoje
adultos.
Em 1990, foi a primeira mulher indígena a
conseguir uma PETIÇÃO no 47º. Congresso dos Índios
Norte-Americanos, no Novo México, para ser apresentada
às Nações Unidas. Neste Congresso, havia mais de 1500
índios. Por
isso, participou durante anos, da elaboração da
”Declaração Universal dos Direitos Indígenas”, na
ONU, Genebra, por essa razão recebeu em 96 , o título
“Cidadania Internacional”, concedido pela filosofia
Iraniana “Baha´i”, que trabalha pela implantação
da Paz Mundial.
Defensora dos Direitos Humanos, além de vários
Encontros, e criadora do primeiro Jornal Indígena e
Boletins conscientizadores e cartilha de alfabetização
indígena no método Paulo Freire com apoio da Unesco,
organizou em Nova Iguaçu/RJ, em 91 outro Encontro inédito
e histórico, onde participaram mais de 200 mulheres indígenas
de várias regiões, tendo como convidados especiais a
cantora Baby Consuelo e vários líderes indígenas
internacionais. Organizou vários cursos referentes à
Saúde e Diretos reprodutivos das mulheres indígenas e
foi consultora de outros encontros sobre o tema.
Em 92 foi Co-Fundadora/Pensadora do Comitê
Inter-Tribal 500 Anos (kari-oka), por ocasião da Conferência
Mundial da ONU sobre Meio-Ambiente, junto com Marcos
Terena, Idjarruri Karajá e muitos outros líderes do país,
além de ter participado de dezenas de Assembléias indígenas
em todo o país.
Discutiu a questão dos Direitos Indígenas em vários
fóruns nacionais, e internacionais, governamentais e não
governamentais, diversas diretrizes, estratégias de
ordem político-econômica, inclusive no fórum sobre o
Plano Piloto para a Amazônia, em Luxemburgo/1999.
No final de 92, por seu espírito de luta,
traduzido em seu livro “A Terra é a Mãe do Índio”,
foi premiada pelo PEN CLUB da Inglaterra, no mesmo
momento em que Caco Barcelos (“Rota 66”) e ela
estavam sendo citados na lista dos “Marcados para
Morrer”, anunciados no Jornal Nacional da Rede Globo
de Televisão, para todo o Brasil, por terem denunciado
esquemas duvidosos e violação dos direitos humanos e
indígenas.
Em 95, na China, no Tribunal das Histórias não
contadas e Direitos Humanos das Mulheres/Conferência da
ONU, Eliane Potiguara narrou a história de sua família
que emigrou das terras paraibanas nos anos 20 por ação
violenta dos neo-colonizadores e as conseqüências físicas
e morais desta violência à
dignidade histórica de seu bisavô, avós e
descendentes. Contou também o terror físico, moral e
psicológico pelo qual passou ao buscar a verdade, além
de sofrer abuso sexual, violência psicológica e
humilhação por ser levada pela polícia federal, por
estar defendendo os povos indígenas, seus parentes, do
racismo e exploração. Seu nome foi jogado na lama nos
jornais do Estado da Paraíba. Tudo isso à frente de
suas três crianças na época.
Eliane
no último governo foi Conselheira da Fundação
Palmares/Minc, é FELLOW da organização internacional
ASHOKA, dirigente do Grumin e membro do Women´s Writes
World. Eliane participou de 56 fóruns internacionais e
para mais de 100 nacionais culminando na Conferência
Mundial contra o Racismo na África do Sul, em 2001 e
outro fórum sobre Povos Indígenas em Paris, 2004.
Eliane
é do Comitê Consultivo do Projeto Mulher_ 500 anos atrás
dos panos que culminou no Dicionário Mulheres do
Brasil.
É
autora de seu mais recente livro ‘Metade
cara, metade máscara, Global,
pela GLOBAL EDITORA que
aborda a questão indígena no Brasil.
Rio de Janeiro, 20 DE JULHO DE 2005
Fonte: http://elianepotiguara.org.br/aautora.html